quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Chegou 2010

Que todos os frutos plantados em 2009 floreçam e sejam colhidos em 2010. É o meu desejo sincero para mim, amigos, família e a todas as pessoas de boa vontade do mundo inteiro. E que não nos esqueçamos de continuar sempre plantando mais e mais para que todos os anos tenhamos o que colher.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

China's Dreams

My new sextet.
Myself at the piano, Sizão Machado on bass, Alex Buck on drums, Laudir de Oliveira on percussion, Josué dos Santos on tenor sax, Sidmar Vieira on trumpet and flughelhorn.


sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

VITRINE DO FAUSTÃO

Fiquei alegre em saber que alguém ainda lembra de mim e me promove. Afinal, acho que a mais ou menos uns 10 anos que não aparecia na mídia televisiva!



Se alguém se interessar em adquirir este CD, (Intemporal/Timeless) está disponível no

http://www.guilhermevergueiro.com.br/prod.html

Uma série de gravações nunca lançadas gravadas entre 1971 e 2006. Participações de grandes companheiros, como Edison Machado, Rafael Rabello, Gretchen Parlato, Guilherme Vergueiro's Brazilian Big Band, Lea Freire, Teco Cardoso e muitos outros.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

40 ANOS DE CARREIRA

Ao longo de 40 anos de carreira, fiz muitas gravações que nunca foram lançadas, muitos projetos que nunca foram concretizados, muitos programas de rádio e shows ao vivo gravados que "quem viu viu, quem não viu não viu". Vivi muitos anos no exterior o que causou a impressão ao público brasileiro que eu tinha "sumido", tive poucas testemunhas do que fiz por aí.

Nos anos que vivi no exterior, sempre mantive uma postura de levar ao público estrangeiro o melhor da música brasileira interpretando compositores renomados assim como meu trabalho de compositor todo ele baseado na música brasileira. Nunca tive a intenção de participar de grupos de artistas estrangeiros, e sim de convida-los a participar de minhas "empreitadas" interpretando música brasileira que eles não conheciam. Assim foi com Ron Carter, que ficou maravilhado com as composições de Johnny Alf, Walter Booker que tocava Feitio de Oração ao contrabaixo, Wayne Shorter tocando Cartola e Assis Valente, Wallace Rooney interpretando Pixinguinha, Nicola Stilo tocando Geraldo Pereira, para citar alguns. Enfim, no exterior, quando se interpreta músicas desses compositores, o público imagina que você esteja mostrando algo novo, original, inédito, moderno, sem saber que essas canções foram compostas a mais de 50 anos atrás. Misturadas com minhas próprias composições sempre resultou em concertos e apresentações que emocionavam o público e a resposta sempre era de alto astral e crícicas muito boas.

Também sempre pude contar em meus concertos e/ou gravações com músicos extraordinários brasileiros que vivem ou estavam de passagem pelo exterior ou convidados para a ocasião, como Edison Machado, Claudio Slon, José Marino, Meia Noite, Octavio Bailly, Claudio uimarães, Duduca Fonseca, Teco Cardoso, Carlos dos Santos, Robertinho Silva, Pablo Silva, Ricardo do Canto, Marcia Maria, Raul de Souza, Airto Moreira, Flora Purim entre outros.

No Brasil, onde vivi a primeira metade da década de 70 e a maior parte dos anos 80 também formei vários grupos e duos, trabalhamos bastante, apesar de nunca termos conseguido contrato com gravadoras e ficarmos restritos ao momento, também na base do "quem viu viu quem não viu não viu". Tive em meus grupos também participações de músicos extraordinários, como Cisão Machado, Duda Neves, Marcos André Seraphini, Mauro Senise, Ion Muniz, Zé Luiz Signeri, J.T. Meirelles, participações de integrantes da bateria da Estação Primeira de Mangueira, adulta e mirim, duos com Lea Freire, Raul de Souza, Rosa Maria, além ce concertos solos. Algumas dessas apresentações foram gravadas e esquecidas em vários "cantos" por aí em fitas cassete, DATs, e outras mídias que hoje não se usam mais.

Este ano resolvi "correr atrás" dessas gravações ao vivo e em estúdio que estavam perdidas por aí e digitaliza-las, o que resultou em mais de 150 faixas. Com o apoio inestimável de minha amiga e empreendedora Regina Pinho de Almeida da PROJECTO / S e da Tratore, iremos lançar 3 volumes com uma parte deste material, o que deu para ficar algumas faixas com muito boa qualidade e outras com o melhor que pudemos fazer para que atingissem uma qualidade razoável.

Será o INTEMPORAL / TIMELESS, volumes 1, 2 e 3. O primeiro volume deverá sair por volta de setembro com direito a shows de lançamento e assim que estiverem fabricados, publicarei aqui a história de cada faixa.

Neste primeiro volume terão faixas gravadas em estúdio e programas de rádio.No segundo gravações ao vivo, e no terceiro gravações em estúdio, programas de rádio e ao vivo.

Espero que gostem das gravações que vão de 1971 (a primeira vez que entrei num estúdio para gravar) a 2007, e se divirtam com as histórias das mesmas.

Segue abaixo uma das faixas deste primeiro volume. Inusitadamente cantando, acompanhado dos grandes Walter Booker ao contrabaixo e Edison Machado bateria, a canção "O que é amar" de Johnny Alf. Solo do guitarrista José Neto. Gravada em Boston, 1978.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Perdidos Achados II

Este texto está datado 12/07/90 escrito atrás de um esbôço de melodia numa partitura. Como cheguei em Los Angeles em mais ou menos março de 1990, deve ter sido uma crise de saudade. Diz assim:

"Cheguei no Rio por volta de 87 decidido a desenvolber minha carreira lá, pois julgueii que S.Paulo estava muito ruim para arte. Pedi socorro aos amigos Ricardo e Gilda que me receberam maravilhosamente. Poucas vezes em minha vida me senti tão respeitado e tratado com tanto carinho. Senti como se tivesse descoberto uma nova família. Aproximei Ricardo de Claudinho e Izinha (meus compadres) e Claudinho de Doutor Marcos André e devagar começamos a tocar um pouco. Gilda me apresentou a algumas pessoas lindas como Aé Luis, Monica, Patrícia, Tô, que passaram a ser pessoas importantes e muito queridas para mim, sem contar a grande curtição de Ciça e Luli. Fizemos um maravilhoso show no Parque da Catacumba além de temporadas inesquecíveis e sucessivas no Mistura Fina. Conheci Dr. Olinto e por seu intermédio passei a frequentar a Mangueira, uma velha paixão. Fizemos muita música. Divertimo-nos demais. Foi sem dúvida uma das fazes mais queridas e divertidas e importantes de minha vida. Algo que se guarda no coração para sempre e não se pode esquecer. Dona Yole, Dr. Peixoto, a mãe da Monica, as festinhas no Zé Luis, os romances com Patricia, Elaine, a sinuca com Lacerda, Ricardo e Claudinho, a picina, os papos com Gilda, as gandaias, a operação bandeija, o show em casa com Maria Alice, a pimenta, a Joana cozinheira (que eu adoro), os almoços de sábado, o almoço de ano novo no restaurante português, os desfiles da Mangueira, os ensaios, o chicote, o bip, as gravações com Carlinhos, a praia de Ipanema, a Casa dos Sabores, o Árabe, a ponte aérea, o Sulpan, tudo muito vivo em meu coração e motivo de inspiração e razão para adorar a vida e seguir tendo idéias para novos tempos de curtição e amor. Adoro vocês".

Relendo isso hoje, que saudade.... mas continuo graças a Deus com os mesmos sentimentos e motivado e inspirado para novos tempos de curtição e amor. Adoro a vida.

Abaixo uma gravação do tal do famoso show no Parque da Catacumba, que vai receber um capítulo todo especial nesse "blog". Estou recuperando essas gravações para botar brevemente, espero, a disposição do público interessado. Essa minha composição "A Lata", foi a abertura do concerto, que durou acho que quase duas horas e meia. Espero que gostem.



sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Perdidos Achados

"Cavucando" antigos HDs, CDs, caixas, etc... tenho encontrado algumas coisas interessantes que vou postando aqui para quem tiver paciência e/ou interesse de um pouco de minha trajetória. Este escrito está datado de 01/01/2006. Outro achado foi uma interpretação de "As Rosas não falam", de Cartola,
(aliás essa é uma das músicas que mais gravei) que nunca foi lançada.
No fim to texto se desejarem, ouçam, e espero que gostem.

Me foi dito no começo de minha trajectória como músico profissional que para se ser um bom improvisador, não era permitido repetir frases, tudo tinha que ser espontâneo e na hora, de acordo com o que estivesse acontecendo, sentindo. O improviso tinha que ser uma re-interpretação ou uma variação dos temas e cada dia ou cada set tinha que ser diferente. Fiquei com isso na cabeça e tento tocar assim até hoje. Isso demanda muito do instrumentista que tem que estar sempre concentrado e com seus sentidos a flor da pele na hora das apresentações para que possa se exprimir e emocionar as plateias.

A música brasileira popular, (samba, choro, bossa nova, baião, etc...) é talvez a mais rica do mundo. Possui de maneira forte e exuberante os três elementos que definem música. Ritmo, harmonia e melodia. Por isso é que para se tocar esse gênero musical exige-se muita concentração, prática e concentração. Independência é fundamental.

Entendo a música como arte, e não como um produto descartável. Acho que tenho a responsabilidade quando me apresento de entrar no coração das pessoas, pois se estão ali naquele momento, devem estar a procura de alguma emoção, alguns momentos em que possam se desligar de seus quotidianos e problemas e entrar em contacto com o belo, e/ou seus próprios sentimentos e emoções, através da música que irão ouvir e sentir. Levo isso muito a sério, respeito muito a plateia e sempre tento me entregar o máximo possível as minhas interpretações para que as audiências saiam dali com uma boa lembrança, que pelo menos alguns momentos daquela apresentação fiquem para sempre no coração das pessoas, que se transformem em referência para sentimentos agradáveis de paz, ou amor, ou tranquilidade espiritual. Algo assim.

O piano, ao meu ver, é o mais sublime instrumento musical. Isso sem menosprezar de maneira nenhuma a beleza e a importância de todos os outros instrumentos musicais.

Hoje em dia, as pessoas aprendem a tocar mais por referência e/ou imitação. Acho que não estão dando mais importância nas escolas e nas Universidades musicais a exploração dos sentimentos de cada discípulo, a importância da criação do próprio estilo. Os músicos hoje em sua grande maioria tocam pedaços de estilos de músicos do passado, que tinham estilo próprio. Então acaba ficando pastiches de estilos de artistas que foram estudados e analisados durante seus estudos. O resultado disso é que na grande maioria dos concertos e shows que vemos por aí são apenas demonstrações de técnicas e habilidades. Não emociona. Não toca, e os comentários se resumem a divagar sobre a técnica e habilidade dos músicos para classifica-los de competentes ou não. Raramente as pessoas saem realmente emocionadas após os concertos.

Não sou muito de fazer comentários sobre os outros ou os trabalhos dos outros. Acho que cada um faz, ou deveria fazer o melhor que pode. Dou opiniões, as vezes sobre fatos, música, falo o que sinto, acho ou penso, e se isso afeta alguma pessoa, organizações ou movimentos, se a carapuça serve em alguém, que a vistam e sintam-se confortáveis, ou contestem, ou dêem também suas opiniões. Só as vezes quando uma coisa ou um fato me incomoda muito ou me alegra muito dou nomes aos bois diretamente.

Existe uma diferença muito grande entre influência e imitação. Influência, todos os artistas tem um pouco. Mas tem também os imitadores. Caras que ficam tocando e tocando os discos de seus prediletos e tentando tocar igual. Isso eu acho mal. Quando eu era muito pequeno, 6 ou 7 anos, as pessoas se impressionavam pois eu tinha a capacidade de tocar igual a um disco que meu pai tinha do pianista Count Basie tocando Boogie Woogie, e eu tocava igualzinho a ele. Todos pediam para eu mostrar a façanha. Aquilo me incomodava muito, pois para mim não era nada de excepcional, mas as pessoas achavam fantástico e aquilo me incomodava muito. Foi o fim para mim de tocar igual ao que eu ouvia.

Meu mestre, meu avô, o professor Guilherme Fontainha, sempre deu muita importância a interpretação, aos sentimentos que os compositores queriam passar com essa ou aquela peça musical. Insistia muito no uso correto do pedal, nas nuances, piano, pianíssimo, forte, meio forte, stacatto, portato,, ralentandos, etc. ensinando como tirar o melhor som do piano através do método do peso do braço, a posição correta das mãos, a posição correta de se sentar no banquinho do piano, tudo para facilitar ao máximo o bom desempenho musical, para que nada pudesse vir a atrapalhar a execução e a expressão musical. Ele foi um dos maiores mestres de piano do Brasil de todos os tempos. As aulas de prática, teoria, mecanismo, etc... eu tinha com uma assistente dele, a professora Fumiko Kawanami, e ele aparecia de vez em quando para dar essa lapidada essencial para o bom desempenho e interpretação.

Tive aulas também de Harmonia Tradicional com o professor Paulo Herculano e também de composição serial, estética musical e psicologia musical com o professor H.J. Kollroetter que me foram muito úteis. De resto, sou autodidata. Não tenho nenhum diploma. Só do ginásio.

Quando eu era criança, um artista ou compositor de 50 anos para cima, as vezes até menos era considerado da velha guarda. Hoje em dia se vê os artistas de 60 anos para cima serem consumidos pelos jovens e até adolescentes. Talvez seja pelo fato de não haver tido uma evolução a altura e também acredito que seja pela falta de investimento da indústria em novos valores. Hoje em dia quem vende bem são os coroas, e alguns grupinhos de música sem a menor importância musical ou histórica, nada condizente com o real valor da música brasileira popular de outros tempos.

A inspiração a meu ver é um estado de espírito. Nos momentos em que nossas almas estão descansadas, livres de qualquer influência material, são capazes de captar no ar, na natureza, nas vibrações cósmicas, melodias, harmonias, combinações rítmicas, e são nesses momentos que conseguimos chegar perto do que queremos expressar através da música, ou qualquer arte, acredito. Há quem faça tudo mais tecnicamente, há até teorias de que inspiração não existe, que tudo é técnica, etc. mas eu encaro as coisas, a vida, a arte, a música de uma maneira mais espiritual. Vejo espiritualidade em tudo.

Disciplina, paciência, dedicação, prática e principalmente conexão com a própria alma, com o próprio Ser para mim são os requisitos para se ser um artista pelo menos razoável. É um longo caminho a ser trilhado. Uma das coisas que o professor Kolroeter falou e que nunca me esqueci foi "Sem ordem não existe obra de arte". Essa ordem a que ele se referia, para mim soou como tudo aquilo que eu defini no início desse "parágrafo" digamos assim.

Não me esqueço de uma passagem engraçada do trumpetista americano Dizzie Gillespie. Perguntado sobre o que ele encarava a música, o tocar, o interpretar, ele respondeu: " A gente se transporta para uma outra esfera, e aí toca, improvisa, tudo num estado de iluminação maravilhoso, ficamos flutuando num espaço cósmico, e por aí foi, no que o "perguntador" falou: " Ohhhh! então todas as vezes em que vemos o Sr. tocar o Sr. está iluminado dessa maneira e nesse tal espaço cósmico?" E ele respondeu: " Olha, uma vez, eu quase consegui isso..." É assim para mim. Me transporto também para um lugar desconhecido, um espaço diferente e fico ali quando estou tocando. Um lugar tranquilo onde existe paz, harmonia, tranquilidade, alegria, comunicação com entidades superiores, etc. Mas nunca conseguimos exatamente ficar ali todo o tempo, afinal somos humanos. Mas acredito piamente que sou ajudado por entes superiores quando estou me apresentando, ou compondo, ou escrevendo arranjos. Não sei fazer isso sozinho. Não estudei o suficiente.




sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

The Brazilian Big Band


Um dia, andando pela Ventura Boulevard, (Los Angeles), estava pensando para variar, como sair da dureza, como arranjar trabalho, pois estava completamente duro e para variar também com mulher, crianças em casa. De repente passei por um local (que agora não me lembro o nome) e vi um grande anúncio que dizia: "Todas as terças feiras a noite das Big Bands", e com nomes "fortíssimos" de orquestras de arranjadores super renomados e conceituados no meio artístico americano. Entrei, e perguntei quem era o responsável pela contratação das orquestras. Apareceu uma "dona", simpática e perguntou o que eu desejava. Disse que era um pianista brasileiro e que tinha uma Big Band que tocava música brasileira, samba, bossa nova, etc... A "dona" ficou super entusiasmada e marcou uma data para mim para dali a uns dois meses.

Saí de lá tonto, pois era tudo mentira. Não tinha Big Band nenhuma, nenhum arranjo e nem conhecia os músicos de orquestra na cidade. Foi então que consegui um trabalho para tocar num tipo de festa de Carnaval em Phoenix, Arizona, após a corrida de rua de Fórmula Indy. Alí conheci um trombonista, espetacular, o Bruce Fowler, e de madrugada contei o meu dilema, e ele me disse que era o responsável por grande parte das arregimentações para trilhas de filmes nos melhores estúdios de L.A., que conhecia os melhores músicos de orquestra, que a mulher dele era copista, etc... e que topava montar a orquestra para mim, desde que fosse primeiro a minha casa e eu mostrasse ao piano um pouco do que eu queria escrever, para ter certeza de que eu era bom mesmo na "pena", para ver se valia a pena mesmo ele entrar nessa. Foi lá conferir e achou tudo uma beleza, e disse que era só eu escrever os arranjos que ele cuidava do resto.

Aí começou a segunda parte do "drama". Comprar papel de música, lapis, borracha, apontador, etc... (naquele tempo ainda era tudo "na mão", não tinha softwares para escrever música em computadores). Comecei a escrever. Alguns dias depois, varando noites as voltas com os arranjos, me dei conta de que não conseguiria escrever a quantidade de arranjos necessários (uns 15) para fazer 2 sets na data marcada.

Foi aí que fui a casa do meu amigo maestro Moacir Santos, expliquei a furada que tinha entrado, e sugeri a ele que na noite eu fizesse uma homenagem a ele, e ele apareceria regendo a orquestra e levaria uns 5 arranjos para me aliviar da trabalheira. Ele ficou entusiasmado e topou. Aproveitei e fiz a ele uma pergunta, (pois já tinha escrito arranjos em S.P. e era muito limitado, na questão de "range" dos instrumentos. No Brasil as orquestras eram limitadas, os primeiro trumpetistas só chegavam até certo ponto, os trombonistas baixo também, e os acordes tinham que ser meio quadrados, senão ficava tudo desafinado. Então com isso em mente, perguntei ao Maestro: "Moacir, aqui pode tudo?" Ele respondeu, "Tudo". Eu, "Tudo mesmo?" Ele, "Tudo".

Voltei animado para casa e continuei a escrever. Pensei, orquestra Brasileira tem que ter pandeiro, e crooner (em algumas músicas). Liguei para o Airto Moreira e o convidei para tocar pandeiro na orquestra. Só pandeiro, sentadinho lá na estante dele sem firulas. Ele adorou a idéia, mas impôs uma condição: queria cantar uma música. Eu falei, Pô Airto, você não é cantor, ele ficou bravo e disse que na terra natal dele tinha ganho até premios cantando imitando o Jorge Veiga. Tudo bem. Escrevi o "Foi a noite" para ele, do Jobim e da Dolores Duran. A Flora (Purim) mulher dele ficou com ciúmes e disse que queria cantar umas duas também. Tudo bem. Escrevi para ela o "Rapaz de Bem" do Johnny Alf e o "Quem quizer encontrar o amor" do Geraldo Vandré.

Na parte instrumental, escrevi algumas composições minhas e outras, como "Feitio de Oração" do Noel Rosa.

Começaram os ensaios. Os músicos eram pra lá de excelentes, super competentes, leitura a primeira vista, afinação, timbre, pressão, enfim o supra sumo. Todos os 5 saxofonistas (a banda eram 4 trumpetes, 4 trombones, 5 saxofones e um clarinete) tocavam também todas as flautas, de piccolo a flauta em Sol, e também clarinete se precisasse e clarone (que eu adoro e colocava em alguns arranjos.) Mas vieram com um papo furado, de que eu escrevia em dois por quatro, e que deveria escrever em dois por dois, pois eles estavam mais acostumados, era mais fácil, que trabalhavam com os melhores e maiores arranjadores do mundo e que todos escreviam em dois por dois. Foi aí que eu mostrei quem eu era.

Meio na base da brincadeira, chamei todos de viados, disse que tinha ido parar alí pois no Brasil diziam que alí é que tinham os melhores músicos do mundo, os únicos capazes de tudo, e agora eles vinham com essa frescura? Disse a eles: "Eu não sou maestro porra nenhuma, apenas escrevo, vocês têm que me ensinar a reger, não sou viado pra ficar com mãozinha balançando na frente de vocês para vocês saberem onde têm que entrar e sair, etc... eu quero tocar piano, ou ficar no bar ouvindo minha orquestra tocar sozinha. Se virem. Agora, eu vou ensinar rapidamente a vocês o que vocês não sabem. Tocar samba, e saber interpretar em dois por quatro, coisas que vocês realmente não sabem. Ficaram meio cabreiros, mas riram bastante com o meu jeito de falar e meu total desprendimento, e também respeito por eles. Mas sentiram logo que teriam que me respeitar também no mesmo nível.

Logo, me apelidaram do "Wild Maestro", (o Maestro Selvagem). Fizemos mais alguns ensaios e eles aprenderam a tocar samba e dois por quatro, ficaram alegrissimos e orgulhosos com isso e começaram a me "adorar". Papos, drinks, etc...

Na dita noite de estréia, a platéia dava voltas no quarteirão, pois nunca tinham visto uma Brazilian Big Band, e com o apoio da Flora, do Airto, do Moacir, o nome dos músicos participantes etc... Batemos o record de bilheteria da casa. Estavam todos os melhores e maiores arranjadores e Maestros do pedaço para me checar. Fizemos os 2 sets e arrazamos. Críticas nos jornais, a platéia extasiada, os músicos todos sorridentes, enfim foi um sucesso, e ficamos então por alguns anos nos apresentando por alí (mas aí já sem o Moacir, o Airto e a Flora) e em outros locais com enorme aceitação do público.

Só não consegui contrato para gravar um disco com a Orquestra. Mas meu compadre, o "China", bancou uma sessão de gravação para eu poder pelo menos ter um registro da Orquestra e gravamos 3 faixas. Na base do "vamo lá".

Qdo vim de L.A. para o Brasil, deixei muita, mas muita coisa minha mesmo por lá, na casa de meu filho e por lá estão. Nunca tive "saco" de mexer naquilo tudo e trazer para cá, apesar de ir a L.A. sempre que posso.

Outro dia, mexendo em algumas caixas que trouxe de lá mas nunca mexo nelas, achei um tape com uma das faixas que gravamos "naquela" sessão. Fiquei empolgado e transferi para CD. É uma faixa só, sem solos de sopro, pois o tempo era curto, então só eu fiz um "solinho".

Segue então, o "Samba do Brilho", interpretado pela "Guilherme Vergueiro Brazilian Big Band".
Espero que gostem.
A ilustração acima é do meu filho Nicolau Vergueiro, artista plástico ainda radicado em L.A.